Recusa do Comitê Olímpico Brasileiro em não incluir as religiões de matrizes africanas

12/07/2016 19:49

Nota sobre a recusa do Comitê Olímpico Brasileiro em não incluir as religiões de matrizes africanas nos jogos olímpicos do Rio de Janeiro – 2016. 

olimpiadas-rio-2016-logo-3

A primeira vista pode causar estranheza e até revolta o fato do COB – Comitê Olímpico Brasileiro não incluir as religiões de matrizes africanas – Candomblé a Umbanda – nos jogos olímpicos da cidade do Rio de Janeiro, com a alegação de que não haveria espaço devido a sua suposta pouca representatividade, e que a decisão havia sido tomada pelo Comitê Olímpico Internacional – COI. Também o espiritismo não foi incluído.

Lideres religioso e todos os movimentos que lutam e combatem a intolerância, expressaram sua indignação, os artigos e manifestações são vários e os números cada vez mais crescentes de casos de intolerância religiosa, atestam a importância da questão.

Todavia, gostaria de expressar outra opinião quanto a esta questão, tão delicada, pois talvez seja preciso ir um pouco além da decisão do COB.

Em primeiro lugar, cabe questionar a desculpa dada pelo COB, para justificar a ausência da Umbanda e do Candomblé, dizendo se tratar de decisão do COI, perguntando então qual seria o grau de autonomia do Brasil nesta questão? Nossa autonomia enquanto NAÇÃO seria igual a da CBF na copa de 2014?

Em segundo, trata-se também do fato que especialmente estas duas religiões vem sofrendo um processo de ataque e demonização constante, como atestam os especialista e estudiosos da questão.

Outro ponto a destacar é que isto se refere a uma importante dimensão da vida cultural do país e de sua população, e o ataque a essas religiões não se constituem em um fenômeno recente, em função do aumento das crenças neopentecostais, mas essa intolerância é histórica, verificada no país desde o mais remoto inicio do século XX, quando os negros e seus descendentes eram proibidos de manifestarem seus cultos na cena urbana.

Por sua vez cabe lembrar ainda, que a realização dos Jogos Olímpicos, representa o momento em que a Nação proponente procura mostrar ao mundo a sua constituição histórica, apresentando aquilo que de melhor lhe caracteriza enquanto povo.          Assim se nos lembrarmos das Olímpiadas de Sidnei/ Austrália, especialmente na cerimonia de abertura, quando uma atleta de origem aborígene carregava a bandeira da Nação, era também uma importante atleta, do ponto de vista simbólico, era uma espécie de acerto de conta com o passado, que se reconhecia a importância dos aborígenes na identidade nacional do país. Porem, isto de maneira nenhuma apagava as atrocidades e a violência cometida pelo colonizador branco, mas redimia a Nação de seus “pecados históricos”.

No caso brasileiro, não importa se a maioria de sua população professa o credo religioso católico- somos reconhecidos oficialmente como a maior Nação católica do mundo, de acordo com estatísticas oficiais.

O fato em questão aqui, é que o Estado Brasileiro, pressionado por um movimento histórico, reconhece a importância do negro e seus descendentes na formação da Nação – pelo menos do ponto de vista formal- já que se trata de mais de 50% da população.

A alegação infundada do COB esconde sim, mais uma vez, o fato de que na nossa imagem de civilização abaixo da linha do equador, a imagem de uma Nação negra e mulata, exótica com sua imensidão e beleza, foge aos padrões de um mundo branco, saxão e germânico, como chegaram a afirmar os inúmeros políticos do Império e da República, denunciando que a fraqueza de nossa civilização estaria na RAÇA.

Mais uma vez, a CASA GRANDE, com seus senhores, expulsa o povo que insiste em não pedir licença para entrar na sala.

A cidade do Rio de Janeiro é o retrato fiel dessa herança, onde casa grande e senzala convivem em uma harmonia contraditória e silenciosa, de uma violência que lentamente entra pelos poros e explode no corpo vilipendiado do trabalho e da exploração.

Atrás da suntuosidade do RIO CIDADE OLÍMPICA, se escondem os restos de uma população que destituída de seus direitos básicos, se vê expulsa de suas casas, para poder dar lugar aos novos velhos senhores arautos da civilização do PELOURINHO, que se escondem nos bites 0-1 das redes sociais.

PEREIRA PASSOS está mais vivo do nunca.

CARLOS E. DOS REIS – JULHO DE 2016 

Comments